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História de Sines

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Da Pré-História aos dias de hoje foram o mar e os seus recursos que definiram a economia, a cultura, a composição e até o caráter das gentes de Sines.

Há vestígios da existência de populações humanas em Sines desde a Pré-História, sobretudo do Neolítico e da Idade do Bronze. Ainda hoje é possível ver essas marcas longínquas dos “primeiros sinienses” em estações arqueológicas como Palmeirinha, Quitéria e Pessegueiro ("Cemitério dos Mouros"), no sul do concelho.

Do período da Idade do Ferro, a presença celta é uma hipótese colocada pelo historiador Arnaldo Soledade, que no seu livro “Sines Terra de Vasco da Gama” elabora sobre a possibilidade de ter existido m castro onde é hoje o Castelo e de a toponímia de Sines ter como origem o povo “cineto”. Mais nítida é a marca deixada pelos Cartagineses, que aponta para a relevância comercial desta zona mesmo antes da chegada dos Romanos. Em 1966, é achado numa herdade do concelho o vestígio mais espetacular da colónia púnica em Sines: o Tesouro do Gaio, que pode ser visto atualmente no Museu de Sines.

O povoamento estável do coração de Sines - zona do castelo - começa com os Romanos. As qualidades da baía - protegida das nortadas - num litoral alentejano com pouco abrigos naturais tornam-na o porto da cidade de Miróbriga, a 17km. Uma das hipóteses de origem da toponímia de Sines deriva, aliás, do étimo latino "sinus", que significa baía ou seio, a configuração do cabo visto do alto do Monte Chãos. No período romano, Sines torna-se também um centro de produção de salga de peixe, função em que é progressivamente substituída pela Ilha do Pessegueiro, cujo canal era outro raro ponto abrigado da costa alentejana.

A Alta Idade Média é o período mais obscuro da história de Sines. Um conjunto notável de cantarias encontradas em vários monumentos da cidade, retiradas de uma basílica do século XVII, atestam a presença visigótica neste local, mas os vestígios da ocupação árabe são reduzidos, o que poderá significar que Sines é abandonada nesse período.

Fundação do município

Em meados do século XIII, Afonso III conquista esta zona para o estado cristão de Portugal e integra a povoação de Sines na Ordem de Santiago. A autonomia administrativa em relação a Santiago do Cacém é adquirida em 24 de novembro de 1362, quando Dom Pedro I concede carta de elevação de Sines a vila interessado na sua função defensiva da costa, numa altura em que o comércio marítimo está em expansão e é necessário fixar gente na costa para protegê-lo. A construção do Castelo, fortaleza defensiva, é a condição que o rei coloca aos homens-bons de Sines para a promoção a concelho.

No Castelo, vive no século XV o alcaide Estêvão da Gama, pai do navegador Vasco da Gama, que nasce em Sines por volta de 1469 – na própria alcáçova do Castelo ou noutra casa, junto à barroca onde se situa atualmente a Rua Vasco da Gama. As ligações do descobridor do caminho marítimo para a Índia a Sines durante a sua vida são fortes e motivo de conflito com as autoridades locais e o próprio rei D. Manuel I.

Na altura em que Vasco da Gama nasce, o concelho de Sines é ainda constituído pelas freguesias de Sines, Colos e pela área hoje correspondente à freguesia de Vila Nova do Milfontes. Em 1485, D. João II cria o concelho de Vila Nova de Milfontes e em 1499 Colos torna-se também concelho. O concelho de Sines adquire então a área e a configuração que mantém até hoje.

Toda a transição da Idade Média para a Idade Moderna é marcada pelo medo dos corsários. No final do século XVI e início do século XVII, à medida que aumentam as ameaças à costa, Sines e o seu termo vão sendo fortificados, com a construção do Forte do Revelim e de dois fortes no Pessegueiro (um na própria ilha e outro, que continua de pé, na falésia junto à ilha).

A vida do município na Idade Moderna continua marcada pelas funções marítimas, em Sines, mas também na Ilha do Pessegueiro. No final do século XVI há o projeto de Filipe I de Portugal para a construção de um grande porto artificial na ilha, que não se concretiza, mas de que ainda subsistem marcas do início das obras. No final do século XVIII, Jacinto Bandeira, membro da burguesia mercantil, funda a povoação de Porto Covo, no pressuposto, novamente, de aí virem a ser construídos um grande porto de pesca e outro de comércio.

Na primeira década do século XIX, Sines vive o pânico da ocupação francesa. Uma companhia de Napoleão entra na vila, pilha-a e pica o brasão da coroa real joanina incrustada no cimo da porta do castelo.

O Liberalismo traz alterações à vida de Sines. Em 1834, o município de Sines deixa de pertencer à Ordem de Santiago e, em 1855, é extinto e integrado em Santiago do Cacém como freguesia de São Salvador. Isso não impede que a segunda metade do século XIX seja um dos períodos mais florescentes da história de Sines, com a instalação, entre outras atividades, da indústria corticeira e da conserva. A Sines afluem nesse período tanto industriais ingleses e catalães e alentejanos e algarvios em busca de trabalho. A obra de Cláudia de Campos, escritora siniense e precursora do feminismo, é exemplo da existência de uma elite que fundava a sua riqueza quer nas rendas provenientes das propriedades agrícolas quer também na indústria e no pequeno comércio. No século XIX, Sines dá um herói à causa propriamente liberal - João Daniel de Sines (O Raspalhista) - e recebe Dom Miguel, em escala para o exílio (1834).

Século XX

O século XX começa praticamente com a restauração do município, em 1914. A indústria da cortiça, a pesca e alguma agricultura constituem então a base da vida de Sines. O desenvolvimento da vila de Sines estagna entre a II Guerra Mundial e a década de 70. A indústria corticeira ganha novos concorrentes para o fabrico de materiais idênticos, o porto e as acessibilidades não sofrem obras de monta. Sines é então a praia de banhos do Alentejo.

No início da década de 70 dá-se um choque a todos os níveis da vida de Sines. O governo de Marcello Caetano resolve criar um grande complexo portuário e industrial, com a intenção de dotar Portugal de autonomia em setores fundamentais como a energia e a transformação de matérias-primas. Sines é a localização escolhida, sobretudo devido às águas profundas que detinha, ideais para a atracagem de barcos de grande calado.

Gerido pelo Gabinete da Área de Sines (criado em 1971 e extinto em 1988), o complexo é abalado com a crise do petróleo de 1973 e outros acontecimentos (como a destruição do porto de abrigo, em 1978) fazem com que não se consiga afirmar na escala prevista.

A instalação do complexo muda a paisagem humana do concelho. Entre 1972 e 1981, a população da área de Sines cresce 92 por cento, recebendo famílias de todo o país e de portugueses regressados das ex-colónias de África. A cidade sofre intensa pressão urbanística e sobre as infraestruturas, que o poder local democrático enfrenta a partir de 1976. O nível médio de rendimentos cresce significativamente, mas os pescadores (pela pressão ambiental sobre os recursos marinhos) e pequenos e médios proprietários agrícolas (pelas expropriações) são prejudicados. Vários episódios de poluição industrial mobilizam a população. Em 1982, Sines realiza a primeira "Greve Verde" do país, na sequência de descargas de efluentes na costa norte de Sines.

Desde o final dos anos 90 e início do século XXI assiste-se a um relançamento do complexo, em especial, na componente portuária e das transições energética e digital.